As condições geográficas propícias à ocupação humana favoreceram uma precoce fixação de diversos núcleos habitacionais no território do actual concelho de Ribeira de Pena. Desta evolução resultou um abundante legado de vestígios, datados das mais diversas épocas e culturas desde o Neolítico, que hoje integram o património arqueológico do concelho. Apesar de se ter já perdido muito deste património, é ainda possível perceber a sua riqueza através dos sítios que se preservam e dos novos locais que vão sendo descobertos.
Manifestações Megalíticas
As mais antigas construções remontam ao Neolítico, época em que se fixam na região as primeiras comunidades. Ligadas ao culto religioso e à organização do território, estes primeiros povos deixaram grandes construções em pedra bruta que se encontram com frequência no concelho de Ribeira de Pena. Os destaques vão para o conjunto de mamoas do Alvão, na freguesia de Alvadia, o menir de Pedra d’Anta, também em Alvadia, que se encontra em vias de classificação pela DGPC, e as mamoas de Santa Eulália, conjunto que preserva ainda cinco exemplares. Estas comunidades pré-romanas deixaram ainda como testemunho da sua presença imensas gravuras rupestres que identificam locais de culto solar e que representam uma primeira forma de escrita simbólica utilizada por estes povos. O mais importante testemunho encontra-se na Eira de Lamelas, classificada como Sítio de Interesse Público, mas outros há a destacar, nomeadamente em Santa Eulália e no Lesenho, e alguns certamente por descobrir. De referir ainda a Pedra da Póvoa, uma pedra cúbica com decorações que remontam à Idade do Ferro encontrada junto ao Rio Lourêdo.
Cultura Castreja
Vestígios das primeiras povoações são os diversos castros existentes no concelho de Ribeira de Pena. Fruto da topografia propícia à sua construção, com diversos esporões próximos de cursos de água que cumpriam com as necessidades de defesa e de sobrevivência, encontram-se vestígios de grandes povoados e de pequenos redutos com ocupações que vão desde o Neolítico à Época Medieval. Os destaques vão para o Castro de Cabriz, em Cerva, e o Castro do Lesenho, em Canedo (administrativamente dividido com Boticas), ambos classificados como Sítios de Interesse Público, mas há outros povoados dignos de nota como são os castros de Vilarinho, de Daivões, do Mourão, dos Seixinhos, de Asnela e de Formoselos, por serem aqueles que melhor conservam os seus vestígios e fonte de vários achados importantes.
Cultura Romana
A expansão do Império Romano trouxe a cultura e a economia deste povo para o território ribeirapenense, deixando vários vestígios dessa ocupação. Os mais importantes locais terão sido as villae que existiram nas zonas de vale e que subsistem apenas na toponímia. Dos povoados existentes, destaques para o Castro de Cabriz, que se prolongou mesmo para fora das muralhas ocupando a encosta adjacente, e para o Castro de Daivões, que se terá também estendido para fora das muralhas dando origem à aldeia que lhe dá o nome. Ambos são fruto de notícias de vários achados monetários, escultóricos e cerâmicos. Desta época subsistem ainda alguns achados isolados como a Ara a Júpiter, adoçada a uma parede da Igreja de Santa Marinha, a Ara do Concelho, na posse de um particular, e o Tesouro Monetário de Terra Nova, na posse da Câmara Municipal.
Época Medieval e Moderna
A queda do Império Romano conduziu a alterações profundas na sociedade, fruto de novas influências económicas e culturais, que condicionaram a riqueza material. Vestígios deste período de transição subsistem várias necrópoles de sepulturas escavadas na rocha, de forma antropomórfica ou rectangular, na Póvoa, nas Baralhas, ambas na freguesia de Salvador, e no São João, na freguesia de Canedo. Frequentemente encontradas em rochedos e fonte de variadas lendas são as gravuras conhecidas como “cantinhos”, com origem provável na Idade Média. Merece também referência o lugar das Ferraduras, na freguesia de Canedo, uma lage coberta de marcas em forma de ferradura que assinalaria um velho caminho. Por fim e de uma época mais recente, há os vestígios do pelourinho de Ribeira de Pena que se encontram à guarda do Ecomuseu de Ribeira de Pena.
Arqueologia Industrial
A existência de focos industriais desactivados de grande importância obriga à sua identificação como testemunhos importantes para a história do concelho. Dignos de referência são os fornos cerâmicos do Fontão, situados próximo da Portela de Santa Eulália e que constituíram um complexo importante de produção telheira. Num concelho onde a produção mineira teve grande importância no passado recente, inúmeras são também as galerias de exploração de estanho e volfrâmio, destacando-se pela sua dimensão o complexo mineiro do São João, na freguesia de Cerva, e o complexo mineiro de Padroselos, na freguesia de Santa Marinha.
Património Arquitectónico
Região de contrastes geográficos e culturais revela também na sua arquitectura esta dualidade. Desta forma, as zonas de vale caracterizam-se pelo povoamento disperso e por extensas explorações agrícolas acompanhadas de uma arquitectura elaborada, influência das ricas construções religiosas e solarengas. No lado oposto encontram-se as aldeias serranas do Alvão e do Barroso, pequenos aglomerados de construções simples em pedra rolada. Alguns povoados preservam ainda uma estrutura tradicional, merecendo destaque pela sua preservação as aldeias de Limões, de Santo Aleixo e de Agunchos, estas últimas integrada nas Aldeias de Portugal. Já do século XX e fruto das vagas de emigração do pós-guerra são as casas novas que começam a surgir na década de 60, caracterizadas pela riqueza dos materiais e pela influência construtiva centro-europeia. A arquitectura contemporânea conheceu a sua implantação nas últimas décadas do século XX com a construção de edifícios de influência moderna e pós-moderna, merecendo o destaque, pelo reconhecimento do seu arquitecto, a Casa Tóló.
Arquitectura Religiosa
Ribeira de Pena é um concelho rico em igrejas e capelas que se encontram em quase todos os povoados. Os mais antigos exemplares remontam à época medieval e deixaram os seus vestígios nas Igrejas de Canedo e Cerva e na capela de São Pedro em Ribeira de Pena. Grande expressão tiveram, no entanto, o Maneirismo e o Barroco, fruto da riqueza acumulada por alguns emigrantes que principalmente nos séculos XVII e XVIII se aventuram para o Brasil promovendo, muitas vezes em cumprimento de promessas, a construção de requintados templos como são a Igreja Matriz do Salvador, a Igreja de Santa Marinha, as capelas da Senhora da Guia e da Granja Velha e algumas capelas afectas a casas senhoriais. Há também nesta época a proliferação de pequenas capelinhas pelos povoados, algumas apresentando pormenores de requinte decorativo, como a Capela das Almas ou a Capela de São Sebastião em Cerva, outras marcadas pela simplicidade vernácula da sua construção.
Já o século XX caracteriza-se pela construção de espaços dedicados a Senhora de Fátima, merecendo destaque a capela de Balteiro e a Capela do Calvário em Canedo.
Arquitectura Senhorial
Os solos férteis dos vales do Tâmega e afluentes levaram ao estabelecimento de várias famílias nobres no concelho, que aqui promoveram a construção de magníficos solares. Estas construções conhecem também grande impulso com a emigração para o Brasil e a concessão de títulos nobiliárquicos a vários descendentes de casas nobres que constroem também os seus palacetes.
Embora as primeiras casas sejam fundadas no final da Idade Média, é com os séculos XVII e XVIII que são construídos os melhores exemplares. Podem-se distinguir seis núcleos de construções solarengas: o de Salvador, que compreende as casas do Bucheiro, de Boumilo e do Picanhol; o de Santa Marinha, composto apenas pela Casa de Santa Marinha; o de Senra, composto pelas casas da Temporã, das Pereiras, de Senra de Cima e de Senra de Baixo; o de Santo Aleixo, que compreende as casas da Aldeia, do Fragão, da Fêcha e do Outeiro; o de Bragadas, composto unicamente pela Casa do Barroso; e o de Cerva, que engloba a Casa de Crespos, a Casa das Donas e a Casa da Costa. Para além das casas brasonadas, há ainda um grande número de casas rurais cuja qualidade de construção e requinte decorativo supera, em alguns casos, as anteriores.
Arquitectura Pública
Ribeira de Pena possui ainda importantes infra-estruturas arquitectónicas de utilização pública que importa destacar. As mais antigas encontram-se entre as pontes que desde tempos remotos ajudam à transposição dos numerosos cursos de água cujo caudal avulta frequentemente tornando perigosa a sua travessia. Merecedoras de referência são as pontes medievais de Alvite, classificada como Monumento Nacional, e do Lourêdo, as pontes de Penalonga, da Póvoa e de Cabriz, dos séculos XVII e XVIII, e as construções do século XX onde se destacam, pela sua peculiaridade, o Pondrado e a Ponte de Arame e, pela sua imponência, a Ponte Nova de Santo Aleixo.
Outras estruturas de referência são os pelourinhos, marcos da autonomia municipal de outros tempos. Dos dois que existiram, um em Ribeira de Pena e outro em Cerva, apenas subsiste este último, construído no século XVII e classificado como Imóvel de Interesse Público.
Ribeira de Pena possui ainda alguns cruzeiros comemorativos do duplo centenário da fundação e restauração da independência. O mais emblemático, pela sua imponência, é o Cruzeiro da Independência em Ribeira de Pena, mas há ainda os cruzeiros de Limões, Penaformosa e Formoselos, todos diferentes entre si.
Numa terra rica em nascentes de água, há também uma série de fontanários, dos quais que merecem referência a Fonte de Santo António, na Senhora da Guia, e a Fonte da Água Boa, em Cerva, por serem as mais conhecidas.
Por fim, de assinalar os edifícios dos serviços públicos. O mais antigo é o velho edifício dos Paços do Concelho, na Venda Nova, construção do século XVIII ou XIX onde funcionaram a Câmara e a Cadeia Municipais até à construção, em 1932, do novo edifício para a Câmara Municipal e de um novo edifício para posto da GNR. A riqueza arquitectónica do concelho estende-se também pelas suas escolas primárias que, na sua quase totalidade, são fruto de vários programas de construção ao longo do século XX, encontrando o seu exemplar mais carismático na Escola Primária do Salvador, do arquitecto Adães Bermudes.
Arquitectura Popular
A economia predominantemente rural que sempre marcou o concelho revela-se na sua arquitectura, sendo ainda hoje imensos os exemplares de estruturas de apoio à agricultura. Entre espigueiros, silos, moinhos, levadas, azenhas e lagares, cada qual diferente do anterior, destacam-se, pela sua peculiaridade, os espigueiros comunitários de Penalonga, os moinhos da Levada de Santo Aleixo, os moinhos de Bustelo, a azenha de casas Novas, em Cerva, e os lagares do Bucheiro e de Bragadas. Ainda neste campo, merecem referência os relógios de sol, frequentemente encontrados adoçados a uma casa, capela ou estrutura de apoio agrícola.
Imensas são também as alminhas e os Fiéis de Deus que com frequência se encontram junto a estradas, caminhos e pontes, estruturas construídas por particulares em memória de um ente querido em locais de grande simbologia pessoal.
Situado numa zona de fronteira entre o Minho e Trás-os-Montes, o concelho de Ribeira de Pena recebeu nas tradições do seu povo influências de ambas as regiões, quer pelas características geográficas, de contraste entre as zonas de vale e de montanha, quer pelo contacto directo que as suas populações sempre mantiveram com a região de Basto e do Baixo Minho e com os povos do Alvão, na região levante, e do Barroso, na região mais meridional. Esta localização privilegiada tem como resultado a confluência de vários costumes e saberes que contribuem para a riqueza da sua cultura popular onde o artesanato e a gastronomia assumem especial importância.
Tradições Agrícolas
A predominância da produção agrícola levou a que se enraizasse no seio da população local toda uma série de tradições associadas a esta actividade, tradições que ainda hoje se praticam constituindo momentos de reunião e de grande animação. Apesar de toda a variedade de produtos que são cultivados, a economia baseia-se em três produções dominantes que são também a base dos momentos mais festivos na vida popular: o cultivo do vinho verde, que atinge o seu ponto alto na vindima, o cultivo do milho, cuja desfolhada representa o seu expoente máximo, e o cultivo do linho, onde a arrancada se reveste de grande importância.
Numa economia de subsistência, onde se vive do que a terra dá, a criação de gado tem também grande importância, assumindo o porco um papel decisivo na dieta diária. Não admira por isso que também a matança do porco constitua um momento festivo e de grande significado.
Artesanato
Ainda ligado à riqueza agrícola está a produção artesanal que fornece os equipamentos necessários ao trabalho agrícola e associados à lide doméstica. Ferreiros, canteiros, carpinteiros e tanoeiros faziam parte das áreas artesanais que até há pouco tempo ainda laboravam no concelho. Preservam-se ainda as actividades ligadas à cantaria e à cestaria, merecendo a produção de crossas um particular destaque.
É, no entanto, na tecelagem que o artesanato conhece maior expressão, pelo trabalho da lã nas zonas mais recônditas do Alvão e, principalmente, pelo trabalho do linho. Produzido um pouco por todo o lado, foi nos centros de produção de Cerva e Limões que atingiu elevados níveis de especialização na qualidade do trabalho final, motivando a realização anual da Feira do Linho enquanto reconhecimento da sua excelência.
Folclore
A animação festiva encontra também aqui uma simbiose entre o folclore minhoto, mais garrido e alegre, e o folclore transmontano. Várias foram as associações que se dedicaram à sua manutenção, destacando-se pela sua actividade recente a Associação Desportiva, Cultural e Recreativa de Balteiro e a Associação Cultural, Recreativa e Desportiva de Agunchos.
Os Cantares de Reis são também momentos que se revestem de grande importância entre a população local, numa altura em que vários grupos se juntam para percorrer as povoações entoando cantares tradicionais em busca de uma recompensa. Momento marcante desta tradição é a Feira de Cerva, a 6 de Janeiro, onde comparecem vários grupos de cantares em grande animação.
Outro momento festivo de referência é o Carnaval e o hábito de os habitantes locais se mascararem de forma espontânea, individualmente ou em grupo. Esta tradição mantém-se viva no lugar da Venda Nova, onde anualmente se realiza um cortejo de iniciativa comunitária.
Por fim, de influência transmontana, a tradição de roubar carros, grades, arados e vasos por alturas do São João, que são depois depositados no centro das aldeias, para transtorno de proprietários e deleite dos larápios.
Feiras e Romarias
Envoltas de grande tradição estão as romarias que se realizam um pouco por todo o concelho ao longo do ano, geralmente em honra do santo local, em momentos de reunião e encontro. Para além das festividades religiosas, sempre acompanhadas de magníficas procissões com elaborados andores, há também toda uma festividade civil onde não faltam o folclore e as tendas de produtos regionais, culminando com riquíssimos fogos de artifício. O destaque, pela sua antiguidade e dimensão e pela riqueza dos seus andores, vai para a Romaria de Nossa Senhora da Guia, padroeira do concelho, que se realiza a 15 de Agosto atraindo milhares de romeiros ao alto da Fonte do Mouro. Pela sua dimensão, merecem ainda referência as festas do Salvador, Balteiro, Santo Aleixo e Cerva.
As feiras são também um momento de grande importância económica pois servem, ainda hoje, para as populações locais se aviarem dos mais variados produtos. O destaque vai para a tradicional feira anual de Balteiro, a 22 de Dezembro, que há várias gerações serve o avio para o Natal das povoações do concelho e arredores.
Gastronomia
Também a gastronomia é uma simbiose dos sabores do Minho e Trás-os-Montes, guardando o que de melhor ambas as regiões têm para aconchego do paladar. Os enchidos são aqui um importante elemento que não falta nas merendas e nas mesas, destacando-se as morcelas e as alheiras.
Mas é nas refeições que a gastronomia se destaca. A riqueza piscatória do Tâmega e afluentes reflecte-se nos pratos de peixe com grande realce para as trutas do Beça. A riqueza da criação de gado e da caça evidenciam-se na vitela maronesa, no cabrito das altas terras do Minho, no porco bísaro e no javali, que dão origem a maravilhosos pratos de carne. A riqueza da agricultura merece destaque na produção do milho graúdo que baseia a magnífica broa de milho e os Milhos, prato característico da região.
A riqueza da produção frutífera e da produção de mel reflectem-se na doçaria, de grande influência minhota, assim como é o tradicional Vinho Verde de Basto que, branco ou tinto, acompanha todo o cardápio de forma perfeita.
Romanceiro
A tradição oral dos ribeirapenenses é também um testemunho de várias influências baseando-se em acontecimentos reais, que se mantêm vivos na memória através das lendas e romances, e na sabedoria popular, que guia o dia-a-dia através dos adágios, provérbios e ditados. Por ser a mais popular, destaca-se entre todos a lenda da Pedra Cavalar.